sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Enquanto cuidamos dos outros, Deus cuida dos nossos

Jesus compara aquele povo às ovelhas, e o nosso povo também está como ovelhas sem pastor, perdido, machucado, despreparado, doente afetivamente e desorientado. Assim, acaba se arrastando pela vida por não saber aonde ir e passa a procurar em lugares errados, e assim, se fere ainda mais. Muitas vezes, as pessoas sentem-se atormentadas em seus pensamentos, idéias, nos problemas que enfrentam, pois o demônio é como um bicho-de-pé que está lá, mas não se mostra. Graças a Deus, existe o ministro de libertação. Deus dá o ministério de libertação a quem Ele quiser, e as pessoas que o recebem não devem ter medo, pois muitos precisam de cura. O Senhor, muito mais do que atacar e repreender os maus pastores, vem para tomar conta, para ter misericórdia de nossas misérias. Infelizmente, não conseguimos ser "pastores das ovelhas" que estão em nossas casas, mas quando cuidamos das "ovelhas no quintal dos outros", Deus providencia alguém para cuidar das nossas. Quem nos capacita é o Senhor, mas temos de ousar. Para isso, clamemos a vinda e o auxílio do Espírito Santo. "Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei vós a eles" (Mateus 7, 12).
Seu irmão,
Monsenhor Jonas Abib

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O amor é o melhor jeito de responder às questões do mundo

IImperar é atributo que sugere poder.
O imperador comanda o império, rege com autoridade.
Imperativo é tudo o que ordena, o que governa.
Na linguagem temos os verbos imperativos. São aqueles que dão ordens.
Sempre que os leio escuto gritos, vozes querendo me convencer do conteúdo que sugerem.
O verbo é a casa da ação. Dele se desdobram movimentos.
Verbos mobilizam os sujeitos. É a regra da gramática, mas é também a regra da vida.
Penso nas palavras que me ordenam. Quero compreender a razão de gritarem tanto sobre os meus ouvidos e de me moverem para a vida que vivo.
A interpretação que faço do mundo passa pelos verbos que imperam sobre mim. Por isso, a qualidade da vida depende dos verbos que imperam sobre ela.
Gosto de conjugar o verbo “amar” no imperativo – “Ame!” Não há necessidade de complementos. Ame este ou aquele. Ame agora ou depois. Não há justificativas. É só amar.
É só seguir a ordem que o verbo sugere. “Ame!” Repito.
Não escuto gritos, mas uma voz mansa com poder de conselho. Voz que reconheço ser a de Jesus a me conduzir por um caminho seguro que me fará viver melhor. “Ame!” Ele repete! “Ame!” Ele aconselha.
Tenho aprendido que o amor é o melhor jeito de responder às questões do mundo. Experimento isso na carne.
Eu fico melhor cada vez que amo. Digo isso como homem religioso que sou.
A religião é a casa do amor, assim como o verbo é a casa da ação. Se não o é, não é religião. É esconderijo onde acomodamos nossa hipocrisia. É lugar onde justificamos nossas intolerâncias. É guerra fria que fazemos em nome de Deus.
Eu ainda acredito que o amor é a religião que o mundo precisa. Jesus ensinou isso. Morreu por crer assim. Elevou à potência máxima o imperativo do amor e não fugiu das conseqüências.
Tenho medo quando nos especializamos em qualificar as pessoas como boas ou ruins, em nome da religião.
Tenho medo de deixar que outros verbos imperem sobre minha vida.
Verbos que excluem, abandonam, jogam fora e que condenam a partir de aparências...
É nesta hora que eu me recordo do imperativo de meu Mestre - “Ame!” E só assim eu descanso.
Eu sei que você também costuma se perder em tantas realidades desta vida.
Eu sei que o seguimento de Jesus costuma nos colocar em encruzilhadas, porque não há seguimento sem escolhas.
É natural que nasçam dúvidas e a gente se pergunte – E agora? Como ser de Deus no meio de tantas realidades contrárias? Como manter o olhar fixo no que cremos sem que a gente precise cometer o absurdo de desprezar os que crêem diferente de nós?
Nem sempre conseguimos acertar, fazer da melhor forma.
Quer um conselho? Ame!

Padre Fábio de Melo

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Teologia da esperança

Pensa-se muitas vezes que a esperança está relacionada ao desejo de um futuro tranqüilo, no entanto, não é tão simples assim, já que se esta não apontar a direção da verdadeira felicidade será ilusão.
Na vida possuímos poucas certezas e muito do que possuímos nos pode ser tirado a qualquer momento. Temos e podemos perder a qualquer instante a nossa saúde, bens, amigos, familiares, etc.. Podemos perder até mesmo nossa própria vida; contudo, existem algumas coisas que compõem as certezas maiores, dentre elas está o nosso passado, a história que temos, a qual não pode ser roubada de nós. Pode-se até mudar a interpretação dela, mas ela mesma não pode ser mudada. Até o próprio Deus respeita isso e pode mudar o curso da nossa história (futuro) e o reflexo dela em nós (presente), mas o passado mesmo o Senhor não mexe. O passado que temos é realmente estável e, por isso, imutável. Assim surge a necessidade de uma boa reconciliação com ele, com a história de nossa vida, com os dias que já vivemos, já que eles não serão mudados. De um olhar misericordioso sobre a própria história encontramos o desejo de um futuro imensamente melhor.
Nesse contexto encontramos a presença de Deus na Sagrada Escritura, o Senhor muda o curso da vida de um povo a partir de Abraão (cf. Gn 12) e dessa mudança vai dando sinais de que é confiável, revela seu nome (cf. Ex 3,14), retira o povo da escravidão do Egito (cf. Ex 13-14) e cumpre todas as promessas que faz. Para que isso? Para dar ao povo d’Ele a certeza de ser confiável e escrever na história dos homens a história de Seu amor, uma história divina. Todas essas coisas já aconteceram e fazem parte do passado, pois fatos ocorridos fazem parte de uma história que não muda.
Aqui reside a esperança, o seu fundamento: olhando os fatos do passado sente-se o desejo de experimentá-los no presente e de tê-los em plenitude no futuro. A esperança tem seu fundamento na história pessoal e também em toda a história do mundo. Vemos que a vida pode ser vivida e ter mais sentido do que a vivemos e temos, e aqui encontramos a alegria e a motivação para viver, sabendo que mesmo que a trajetória seja dura, marcada por dificuldades, o ponto de chegada é capaz de nos animar.
O que esperar?
Nossa esperança precisa apontar na direção das coisas que não possuem data de validade, ou seja, que hoje estão conosco e amanhã nos abandonam. Lembra-nos o salmista “Sei que a glória do Senhor eu hei de ver na terra dos viventes” (Sl 26,13), e diante disso percebendo que a glória de Deus se realiza nas vitórias diárias, grandes e pequenas, que ocorrem na dureza de nossas vidas, ainda incentiva: “Espera no Senhor e sê forte! Fortifique o teu coração e espera no Senhor” (Sl 26,14). Esperança e força estão diretamente ligadas. Não como um apenas aguardar, mas como alguém que se coloca em ação, por isso que a qualidade de nossa vida depende do fôlego de esperança que temos.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Por que o celibato do sacerdote?

Jesus Cristo é o verdadeiro sacerdote e foi celibatário; então, a Igreja vê n'Ele o modelo do verdadeiro sacerdote que, pelo celibato, se conforma ao grande Sacerdote. Jesus deixou claro a Sua aprovação e recomendação ao celibato para os sacerdotes, quando disse: “Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender, compreenda” (Mateus 19,12).
Nisso Cristo está dizendo que os sacerdotes devem assumir o celibato, como Ele o fez, “por amor ao Reino de Deus”. O sacerdote deve ficar livre dos pesados encargos de manter uma família, educar filhos, trabalhar para manter o lar; podendo assim dedicar-se totalmente ao Reino de Deus. É por isso que, desde o ano 306, no Concílio de Elvira, na Espanha, o celibato se estendeu por todo o Ocidente, até que em 1123 o Concílio universal de Latrão I o tornou obrigatório.
É preciso dizer que a Igreja não impõe o celibato a ninguém; ele deve ser assumido livremente e com alegria por aqueles que têm essa vocação especial de se entregar totalmente ao serviço de Deus e da Igreja. É uma graça especial que o Senhor concede aos chamados ao sacerdócio e à vida religiosa. Assim, o celibato é um sinal claro da verdadeira vocação sacerdotal.
No início do Cristianismo a grandeza do celibato sacerdotal ainda não era possível; por isso São Paulo escreve a Timóteo, que o grande Apóstolo colocou como bispo de Éfeso, dizendo: “O epíscopo ou presbítero deve ser esposo de uma só mulher” (1Tm 3, 2). Estaria, por isso, o padre hoje obrigado a se casar? Não. O Apóstolo dos gentios tinha em vista uma comunidade situada em Éfeso, cujos membros se converteram em idade adulta, muitos deles já casados. Dentre esses o Apóstolo deseja que sejam escolhidos para o sacerdócio homens casados (evitando os viúvos recasados). Já no ano 56, São Paulo, que optou pelo celibato, escrevia aos fiéis de Corinto (cf. 1Cor 7,25-35) enfatizando o valor do celibato: “Aos solteiros e às viúvas digo que lhes é bom se permanecessem como eu. Mas se não podem guardar a continência que se casem” (1Cor 7,8). “Não estás ligado a uma mulher? Não procures mulher”. São Paulo se refere às preocupações ligadas ao casamento (orçamento, salário, educação dos filhos...). E enfatiza:
“Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar à esposa, e fica dividido. Da mesma forma a mulher não casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a fim de serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo; procura como agradar ao marido”. “Procede bem aquele que casa sua virgem; aquele que não a casa, procede melhor ainda” (1Cor 7, 38). A virgindade consagrada e o celibato não tinham valor nem para o judeu nem para o pagão. Eles brotam da consciência de que o Reino já chegou com Jesus Cristo.
O último Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia confirmou o celibato e o Papa Bento XVI expressou isso na Exortação Apostólica pos-sinodal “Sacramentum Caritatis”, de 22 fev 2007. Disse o Sumo Pontífice:
“Os padres sinodais quiseram sublinhar como o sacerdócio ministerial requer, através da ordenação, a plena configuração a Cristo... é necessário reiterar o sentido profundo do celibato sacerdotal, justamente considerado uma riqueza inestimável e confirmado também pela prática oriental de escolher os bispos apenas de entre aqueles que vivem no celibato (...) Com efeito, nesta opção do sacerdote encontram expressão peculiar a dedicação que o conforma a Cristo e a oferta exclusiva de si mesmo pelo Reino de Deus. O fato de o próprio Cristo, eterno sacerdote, ter vivido a sua missão até ao sacrifício da cruz no estado de virgindade constitui o ponto seguro de referência para perceber o sentido da tradição da Igreja Latina a tal respeito. Assim, não é suficiente compreender o celibato sacerdotal em termos meramente funcionais; na realidade, constitui uma especial conformação ao estilo de vida do próprio Cristo. Antes de mais, semelhante opção é esponsal: a identificação com o coração de Cristo Esposo que dá a vida pela sua Esposa. Em sintonia com a grande tradição eclesial, com o Concílio Vaticano II e com os Sumos Pontífices meus predecessores, corroboro a beleza e a importância duma vida sacerdotal vivida no celibato como sinal expressivo de dedicação total e exclusiva a Cristo, à Igreja e ao Reino de Deus, e, consequentemente, confirmo a sua obrigatoriedade para a tradição latina. O celibato sacerdotal, vivido com maturidade, alegria e dedicação, é uma bênção enorme para a Igreja e para a própria sociedade” (n.24).
O Mahatma Ghandi, hindu, tinha grande apreço pelo celibato. Ele disse: “Não tenham receio de que o celibato leve à extinção da raça humana. O resultado mais lógico será a transferência da nossa humanidade para um plano mais alto... “Vocês erram não reconhecendo o valor do celibato: eu penso que é exatamente graças ao celibato dos seus sacerdotes que a Igreja católica romana continua sempre vigorosa” (Tomás Tochi, “Gandhi, mensagem para hoje”, Ed. Mundo 3, SP, pp. 105ss,1974).
Alguns querem culpar o celibato pelos erros de uma minoria de padres que se desviam do caminho de Deus. A queda desses padres no pecado não é por culpa do celibato, e sim por falta de vocação, oração, zelo apostólico, mortificação, etc; tanto assim que a maioria vive na castidade e por uma longa vida. Quantos e quantos padres e bispos vivendo em paz e já com seus cabelos brancos!
O casamento poderia trazer muitas dificuldades aos sacerdotes. Não nos iludamos, casados, eles teriam todos os problemas que os leigos têm, quando se casam. O primeiro é encontrar, antes do diaconato, uma mulher cristã exemplar que aceite as muitas limitações que qualquer sacerdote tem em seu ministério. Essa mulher e mãe teria de ficar muito tempo sozinha com os filhos. Depois, os padres casados teriam de trabalhar e ter uma profissão, como os pastores protestantes, para manter a família. Quantos filhos teriam? Certamente não todos que talvez desejassem. Teriam certamente que fazer o controle da natalidade pelo método natural Billings, que exige disciplina. A esposa aceitaria isso?
Além disso, podemos imaginar como seria nocivo para a Igreja e para os fiéis o contratestemunho de um padre que por ventura se tornasse infiel à esposa e mãe dos seus filhos! Mais ainda, na vida conjugal não há segredos entre marido e mulher. Será que os fiéis teriam a necessária confiança no absoluto sigilo das confissões e aconselhamentos com o padre casado? Você já pensou se um dos filhos do padre entrasse pelos descaminhos da violência, da bebedeira, das drogas e do sexo prematuro, com o possível engravidamento da namorada?
Tudo isso, mas principalmente a sua conformação a Jesus Cristo, dedicado total e exclusivamente ao Reino de Deus, valoriza o celibato sacerdotal.

Felipe Aquinofelipeaquino@cancaonova.comProf. Felipe Aquino, casado, 5 fihos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação João Paulo II. Participa de Aprofundamentos no país e no exterior, já escreveu 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: "Escola da Fé" e "Trocando Idéias".

domingo, 23 de novembro de 2008

O sexo não resolve as insatisfações

Vida, para o ser humano, é a experiência de ser alguém em comunhão com o outro, reflexo do mistério trinitário. Sendo o ser humano um ser corporal e sexuado, essa experiência tem uma dimensão corporal, se dá e se manifesta no corpo. O núcleo dessa experiência, entretanto, é espiritual no sentido de que ela acontece pela presença de si a si mesmo e ao outro. Poderíamos chamar essa experiência de autoconsciência vital. Ao se experimentar assim o ser humano colhe também o outro, o mundo e as pessoas. É uma experiência de harmonia. Nela é suprimido todo conflito. Ela se traduz em sentimentos e emoções e se mostra no corpo. Não é necessário dizer que, no tempo da história, essa experiência é processo. Daí ser possuída na esperança, que já é uma forma de possuir o que virá. Mas, por isso mesmo, é uma experiência em que estamos sujeitos a enganos ao buscá-la. E nós a buscamos sempre, às vezes, desesperadamente.
Sendo o encontro sexual, quer pela intensidade do prazer físico, quer pelas emoções do envolvimento erótico, um momento corporal de forte experiência de si e de intensa comunicação com o outro, ele parece responder ao desejo profundo de sentir-se a si mesmo e de experimentar comunhão com o outro. E, naqueles instantes, a pessoa pode assim se sentir.
Se a pessoa, no conjunto de sua vida, cultiva uma experiência profunda de si e de comunicação com os outros, o momento do encontro sexual - no matrimônio - será expressão e fonte de uma vida a dois positiva. O sexo, entretanto, por si mesmo, não é fonte de vida para a pessoa. Não é solução para problemas de solidão e para carências afetivas. Quando para esse fim se busca a experiência sexual, a relação entre os parceiros acaba por se desgastar e se torna doentia, lugar de manifestação das mais variadas formas de imaturidade, tais como: possessividade, ciúme, dominação, sadomasoquismo e outras.
Mas é verdade que situações estressantes podem levar a buscar no sexo o desafogo, como recomendou certa vez uma ministra: “relaxa e goza”. Da mera curiosidade adolescente pode se passar para a prática masturbatória como válvula de escape para tensões emocionais. E quando se aprende a ter o (a) parceiro (a) acrescenta-se à experiência física do prazer a sensação de companhia, o envolvimento erótico. Assim o cérebro aprende - instala-se um mecanismo – a mobilizar a área do prazer sexual como forma de superar o desconforto. A força desse mecanismo é poderosa porque, na verdade, a experiência sexual parece responder à necessidade profunda de comunicação do ser humano. Mas uma coisa é certa: o sexo não resolve a insatisfação profunda, doentia ou não, que costuma acompanhar o ser humano desde a infância.
Há ainda outros fatores que levam a pessoa a buscar a experiência sexual como resposta. Nos adolescentes pode ser simplesmente o desejo de experimentar. Mas, em uma cultura que leva o sexo à condição de sentido de vida, o desejo de fazer a experiência acaba se transformando em necessidade.
É nesse contexto humano e cultural que os cristãos devem testemunhar a dignidade maior da pessoa humana através da vivência da castidade. A impossibilidade de experimentar-se positivamente em comunhão com os outros - experimentar amor - é a morte. Como se trata de um processo, nenhum de nós chegou à plenitude dessa experiência. Vivemo-la como caminho. Isso é suficiente para sermos felizes no tempo da história. Os vazios dessa experiência são assumidos como apelos a nela crescer. Donde a importância da esperança como certeza do acerto do caminho. É dentro desse horizonte que podemos entender a sexualidade humana enquanto impulso na direção do outro.
Eros é, em sua raiz, impulso para a comunhão, busca de plenitude, desejo de envolvimento. Eros pode ser fonte de crescimento, força que impele para os envolvimentos místicos. Mas pode perder-se nas emoções vindas de fora, da estimulação dos sentidos e da excitação produzida pela química do prazer. Sem dúvida, o instinto sexual objetiva garantir a continuidade da espécie. No ser humano o instinto sexual é parte de um todo, na qual razão e liberdade constituem nossa identidade específica. Assim, ao mesmo tempo em que a sexualidade humana objetiva garantir a continuidade da espécie, ela se torna lugar privilegiado de comunicação.
O encontro sexual entre homem e mulher deveria, pois, inclusive em razão da intimidade do abraço, ser um momento de profunda e real comunhão. Mais que a intensidade do prazer físico a relação sexual deveria ser a celebração do amor vivido na comunhão cotidiana da vida. No ser humano, portanto, o sexo, enquanto relação, exprime e comunica o que a pessoa vive. Deveria ser expressão de amor, manifestação da riqueza interior que se comunica ao parceiro e que tem a força de gerar outra vida. Matrimônio é união que gera vida. O que foge disso é perda de dignidade. (continua em Por uma sexualidade integrada)

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Maturidade de uma Amizade

Aconteceu de 6 a 8 de julho, no auditório São Paulo localizado na sede da Comunidade Canção nova - Cachoeira paulista (SP) – um aprofundamento com o mesmo tema do próximo Acampamento PHN: “Quem tem um amigo tem um anjo!”. Conduzindo esse evento estiveram Padre Fábio de Melo e Dunga, missionário da comunidade. Em uma de suas homiliascom o nome: "Amizade madurecida", Padre Fábio de Melo fala da importância da maturidade afetiva para uma boa amizade. “Uma das características da infância é a incapacidade de dividir coisas. Uma criança não pode dividir porque não se possui, porque ainda não sabe o que ela é. Você começa a identificar a maturidade, a partir do momento que uma criança consegue perceber as regras de um joguinho. A maturidade faz parte de um processo. Em um processo não podemos queimar etapas. Ele é lento, chato e demorado. Uma criança passa por um momento de amadurecimento a partir do momento que começa a brincar. A maturidade acontece, quando tomamos posse do que nós somos, para aí então poder nos dividir com os outros. Isso faz parte do processo de maturidade. Não nascemos amando, pelo contrário, queremos ter a posse dos outros. Essa é a forma de amar da criança, pois ela não consegue pensar de maneira diferente. Ela não consegue entender que o outro não é ela. Quantas pessoas já adultas pensam assim, trata-se da incapacidade de amar, falta de maturidade. Todos os encontros de Jesus levam a implantação do Reino de Deus. Mas só pode implantar esse reino quem é adulto, que já entende que só se começa a amar a partir do momento, que eu não quero mudar quem eu amo.
Geralmente quando tememos alguém ruim ao nosso lado, é porque nos reconhecemos naquela pessoa. Jesus não tinha o que temer porque era puramente bom, por isso contagiava os que estavam ao seu lado. Na maturidade de Jesus você encontra a capacidade imensa de amar o outro como ele é. Amar significa: amar o outro como ele é. Por isso quando falamos em amar os outros, podemos perceber o quanto deixamos de ser crianças. Devemos nos questionar a todo o momento quanto a nossa maturidade. A santidade começa na autenticidade. Por isso Jesus nos pede para ser como as crianças, que são verdadeiras e simples. É nisso que devemos manter da nossa infância e não a forma de possuir as coisas para si. Você tem condições para perceber a sua maturidade. É só observar se você é obediente mesmo quando não há pessoas ao seu redor. Você não precisa que ninguém te observe, pois você já viu aquilo como um valor. Pessoas imaturas sofrem dobrado. Pessoas imaturas querem modificar os fatos, pessoas maduras deixam que os fatos os modifiquem. A maturidade nos faz perceber que não podemos mudar os fatos. Um imaturo ganha um limão e o chupa fazendo careta. O maduro faz uma limonada com o limão que ganhou.
Muitas vezes os nossos relacionamentos de amizade são uns fracassos porque somos imaturos. Amigos não são o que imaginamos, mas o que eles são e com todos os defeitos. Amizade é processo de maturidade que nos leva ao verdadeiro encontro com as pessoas que estão ao nosso lado. Elas têm todos os defeitos, mas fazem parte da nossa vida e não a trocamos por nada deste mundo. Isso porque temos alma de cristão e aquele que tem alma de cristão não tem medo dos defeitos dos outros, porque sabe que aqueles defeitos não serão espelhos para nós, mas seremos um instrumento de Deus para ele superar esse defeito.
Padre só pode ser padre a partir do momento que é apaixonado pelos calvários da humanidade. Se você não consegue lidar com os limites dos outros, é porque você não consegue lidar com os seus limites. A rejeição é um processo de ver-se. Toda vez que eu quero buscar no outro o que me falta, eu o torno um objeto. Eu posso até admirar no outro o que eu não tenho em mim, mas eu não tenho o direito de fazer do outro uma representação daquilo que me falta. Isso não é amor, isso é coisa de criança. O anonimato é um perigo para nós. É sempre bom que estejamos com pessoas que saibam quem somos nós e que decisões nós tomamos na vida. É sempre bom estarmos em um lugar que nos proteja. Amar alguém é viver o exercício constante, de não querer fazer do outro o que a gente gostaria que ele fosse. A experiência de amar e ser amado é acima de tudo a experiência do respeito. Como está a nossa capacidade de amar? Uma coisa é amar por necessidade e outra é amar por valor. Amar por necessidade é querer sempre que o outro seja o que você quer. Amar por valor é amar o outro como ele é, quando ele não tem mais nada a oferecer, quando ele é um inútil e por isso você o ama tanto. Na hora que forem embora as suas utilidade, você vai saberá o quanto é amado. Tudo vai ser perdido, só espero que você não se perca. Enquanto você não se perder de si mesmo você será amado, pois o que você é significa muito mais do que você faz. O convite da vida cristã é esse: que você possa ser mais do que você faz! ”
Pe. Fábio de Melo

O Cristão e o Respeito Humano

Chama-se de “respeito humano” o pecado de ter vergonha de assumir a posição de cristão, sobretudo de católico, nos meios em que se vive. Assim, muitos escondem sua identidade católica, não rezam em público, não participam, por exemplo, das Procissões nas ruas, e outras atividades, com receio de manifestarem os sinais exteriores da fé católica. Temem a zombaria e coisas semelhantes.
Esta situação tem se agravado ainda mais porque o mundo ocidental começa a zombar da religião, sobretudo do catolicismo. Em Oxford, na Inglaterra, a prefeitura da cidade proibiu de chamar as festividades de final de ano de “Festividade de Natal”, chamando de “Festival das luzes de Inverno”. Cristo foi expulso da vida pública de Oxford…
Por outro lado, o Cardeal Stanislau Rylko, Presidente do Pontifício Conselho de Leigos, do Vaticano, fez um apelo para que os cristãos não sejam dominados por um “complexo de inferioridade”. O Cardeal denunciou no dia 14.nov.2008 (www.zenit.org), a existência de um “novo anti-cristianismo” também no Ocidente. Disse o Cardeal:
“Para os cristãos, chegou o momento de libertar-se do falso complexo de inferioridade para com o chamado mundo leigo, para poderem ser valentes testemunhas de Cristo.” Ele analisou a situação atual das sociedades ocidentais, caracterizadas pela “ditadura do relativismo”, e denunciou a aparição de um “novo anti-cristianismo” que “faz passar por politicamente correto atacar os cristãos, e em particular os católicos”.
Hoje, advertiu o Cardeal, “quem quer viver e atuar segundo o Evangelho de Cristo deve pagar um preço, inclusive nas sumamente liberais sociedades ocidentais”. “Está ganhando espaço a pretensão de criar um homem novo completamente desarraigado da tradição judaico-cristã, uma nova ordem mundial”.
O problema, explicou o cardeal Rylko, não é “o de sermos uma minoria, mas o de ter-nos transformado em marginais, irrelevantes, por falta de valor, para que nos deixem em paz, por mediocridade”. Este momento, explicou, é a “hora dos leigos”, de sua “responsabilidade nos diversos âmbitos da vida pública, desde a política à promoção da vida e da família, do trabalho à economia, da educação à formação dos jovens”.
Lamentavelmente hoje existe uma pressão anti-católica, sobretudo sobre os jovens, na universidade e nos meios de comunicação, tentando impor-lhes uma cultura maldosa de que a Igreja Católica é obscurantista, atrasada, inimiga da ciência, opressora e poderosa. Assim, a juventude, que não conhece a verdade, vai sendo levada a ter ódio da Igreja e vergonha de ser católica. Por outro lado se esconde tudo de bom e de belo que a Igreja fez para salvar o mundo ocidental. Este laicismo anti-católico, tende agora a aceitar tudo o que venha de outras religiões, menos do catolicismo.
De fato é “a hora dos leigos” convictos de sua fé, defenderem Cristo, a Igreja Católica e a “ã doutrina da fé” (Tt1, 9), como muitos têm feito, sem medo, sem vergonha, sem respeito humano. Lembremo-nos de que Jesus disse que quem se envergonhar Dele perante este mundo, Ele também se envergonhará dele diante do seu Pai.

Prof. Felipe Aquino

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Ninguém cai num erro da noite para o dia

Um sacerdote contava que, certo dia, passeava em um bosque e viu no chão um passarinho todo entretido com alguma coisa que não se via bem. Foi então aproximando-se para ver o que era, parecia uma minhoca o que o passarinho espreitava, decidiu então chegar mais perto para ver. Que surpresa! Lá estava ela, imóvel, só com a língua de fora a fazer graça ao passarinho, e o pobrezinho, tonto, cada vez mais perto, encantado, acreditando que ia fazer uma bela refeição, sem perceber que a refeição era ele. Não deu outra! O bote foi certeiro, fatal! É exatamente isso que a tentação faz conosco. Não podendo subir até nós para nos atingir, atrai-nos até o que é mais baixo, por meio do encantamento das ocasiões. Para dizer "não" ao pecado é também necessário considerar a ocasião, isto é, fugir das ocasiões, pois elas exercem sobre a pessoa um fascínio, um encantamento, e surge em nós como que uma "vozinha" a dizer: "Aproveita a ocasião, ninguém está vendo, esta oportunidade não voltará a se repetir..."; e, à medida que damos ouvidos a essa voz, vai se fazendo um rombo em nossa vontade, por onde se escoam todas as nossas forças. É interessante perceber que ninguém cai no alcoolismo da noite para o dia, as ocasiões o arrastam; ninguém comete adultério de uma hora para outra, é preciso criar a ocasião. O jovem que queira ser casto não conseguirá buscando namorar em casa sozinho, ou num estacionamento às escuras e a sós.
Trecho extraído do livro "Quando só Deus é a resposta"

Márcio Mendes - Missionário da Comunidade Canção Nova, estudante teologia, autor dos livros "Quando só Deus é a resposta" e "Vencendo aflições, alcançando milagres".

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Sem conhecimento não existe amor - Como amar o outro com suas fraquezas, limites e incoerências?

Amadeo Cencini, no seu livro: “Amarás o Senhor teu Deus” nos fala do amor ao próximo. Hoje, quero apresentar um resumo do que ele nos fala, por acreditar que pode ser muito rico para você.
A primeira coisa que precisamos entender é que o centro de todo ser humano é positivo, mas no seu todo o ser é limitado. Essa é a condição humana. Ou seja, existem em todo homem e em toda mulher virtudes e defeitos, riquezas notáveis e impulsos incoerentes com a estrutura pessoal, mas que são partes dela. É importante sabermos separar a fraqueza do irmão e o seu valor como pessoa para assumirmos a responsabilidade de que temos por ele e pelo seu crescimento.
O verdadeiro amor não está fundamentado nas qualidades e defeitos, mas sim no valor radicado em seu próprio ser. Isso significa dizer que não basta pensar bem, não se trata de fechar os olhos para os aspectos negativos dos outros, nem é um simples gesto de cortesia. O amor verdadeiro leva a uma percepção profunda do outro, a um olhar agudo e límpido para descobrir o valor interior e a verdade deste. Com isso, dizemos que todo ser humano é digno de ser amado, independentemente de sua conduta ou de seus merecimentos e qualidades. O amor aos nossos irmãos deve estar ligado aos valores fundamentais da sua existência e como tal é incancelável, apesar da aparente indignidade deles.
Não é possível sermos santos e agradar a Deus, sem tomar conhecimento de quem está ao nosso lado. Muitas vezes, ignoramos "onde estava" nosso irmão, como Caim, que não quis se sentir responsável pelo irmão (cf. Gen 4, 9). Quem estima sinceramente seu irmão se sente responsável por ele, pela sua salvação, fará de tudo para estimulá-lo, dia a dia, ao bem, a Deus. É sinal de estima sincera e de amor verdadeiro estimular o outro ao seu bem, o que é estimulá-lo ao centro da vontade de Deus. O verdadeiro amigo não adula nem rejeita o outro, mas o estimula a amar.
Mesmo que o irmão se desvie do verdadeiro bem com o seu comportamento, não podemos perder a esperança de que ele pode, um dia, descobrir e crer na sua capacidade positiva de melhorar e perceber que é muito melhor do que parece e poderá ser fiel àquele projeto que Deus tem para ele.
Essa confiança no outro é uma força estimuladora, é maior do que o pecado e gera a força de vencer o mal porque é capaz de redescobrir o bem ou de salvar a intenção, de dar novamente esperança ou de convidar o outro de novo a caminhar para Deus, nem que seja juntos quando o outro não está muito interessado. Além disso, pode ser o estímulo necessário para mudar o irmão, ainda que a longo prazo, com muita paciência e discrição, sem paternalismo, mas com desejo sincero de levá-lo a crescer na amizade com Deus.
Não amamos para transformar ninguém, e sim, para levá-lo a experiência com Deus, para levá-lo ao amor de Deus, para levá-lo a verdade de Deus; e isso não se realiza pela força das nossas palavras nem pelas nossas críticas.
Amar é pôr-se diante do outro numa atitude de grande respeito por suas opções e tomadas de decisão, suas demoras, seus ritmos de crescimento, para que sua autonomia amadureça sempre mais e a relação vá progredindo em direção à profundidade.
O amor tem que se traduzir em atos que exprimam aquilo que se vive, traduzir-se em gestos que gerem outro amor. Não basta dizer a uma pessoa que você a ama. É necessário também que ela o perceba através dos atos. Por isso, faça o que for necessário para que, de sua parte, floresça a confiança, a familiaridade e a intimidade.
Mas como traduzir em atos o amor? Que expressão escolher? Dando o melhor de si mesmo ao outro. Exemplos: uma saudação, uma carta, um encontro, o tratar-se com familiaridade e intimidade, um aperto de mãos, um gesto de carinho, uma ajuda esperada, a lembrança de uma data particular, uma palavra de estima, de conforto e de estímulo.
Sem conhecimento não existe amor. O conhecimento da pessoa que se quer amar não se detém na periferia, mas chega ao fundo de sua vida e de seu ser. Amar é conhecer o núcleo desta vida e deste ser escondido nela. Toda pessoa é muito mais do que aquilo que aparenta aos olhos dos outros.
Manuela Melo - Missionária da Comunidade Canção Nova, formada em Psicologia, com especialização em Logoterapia e MBA em Gestão de Recursos Humanos.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Portador de Deus! Seja um!!!

No dia 17/10/2008 celebramos na liturgia, memória de Santo Inácio, que recebeu o titulo de ''Teófiro" - portador de Deus.
Você já passou pela experiência de ser 'portador'? Quando era pequeno, minha mãe me mandava buscar alguma coisa, e junto, levava um bilhetinho. Na verdade, era para me dar autoridade. O que acho interessante é que ser portador de Deus tem a ver com a observação que Jesus faz sobre a hipocrisia. No ser portador não importa quem porta, mas o que se porta. Não importa quem leva, mas o que se leva. Aqui a gente entende um detalhe da teologia sacramental muito bonito. Você pode já ter pensado que a Missa que um padre celebrou não tinha valor, pela vida que ele levava. Não importa o portador, e sim o conteúdo que ele anuncia. Tenho que confiar que ele cumprirá o ofício de trazer o que foi pedido a ele. O que Deus realiza na minha vida de sacerdote, o que eu posso realizar a partir dos sacramentos, não está na minha dignidade, mas no ministério recebido. Em mim o mistério de Deus sobrevive, mesmo que eu não faça como deveria ser feito, mesmo pecador. Aí a gente entende a autoridade do padre, onde mesmo não tendo uma vida santa, Jesus continua atuando nele, continua tendo poder de perdoar pecados, de ministrar os sacramentos. Nos paramentos que visto há uma identidade cravada. Inácio de Antioquia dizia: "Neste mundo eu quero ser portador de Deus, desta verdade absoluta". E sabe onde ele foi parar? No meio dos leões. Com portador eu não posso extraviar esse conteúdo. Tenho que me comprometer com ele. Sou portador de um recado e eu não tenho direito de negligenciar isso...e Jesus diz para termos cuidado com aqueles que podem nos mandar para o inferno. Você é portador de Deus. Não há cristianismo na moleza. O portador 'porta a dor'. Não significa você buscar sofrimento, mas abrir o coração para viver o sacrifício de cada hora. O martírio virá. Não há como segurar esse bilhete de qualquer jeito, o mundo quer retirá-lo de nós. Na carta que você carrega, a família tem valor, os cativos serão libertos, não há espaço para mentira, para as drogas, para os vícios. A carta que levamos leva boas noticias. As ameaças que sofremos são outras, os inimigos são outros. Hoje você está sendo assassinado na alma. Estamos diante do desafio de dar conta da vida todos os dias. Esse é o martírio de hoje, em tempos que não são favoráveis aos cristãos. Você está disposto a viver esse martírio? Chega de hipocrisia. Precisamos assumir o cristianismo com todas as conseqüências. Preciso ser cristão em tudo o que sou e realizo. Sou portador de uma noticia! Seja portador de Deus vivendo o seu papel. O cristianismo nos envolve por inteiro. E a espada que está diante de nos hoje é essa que quer nos mandar para o inferno, que cria o inferno dentro de nossa casa. Os saqueadores estão loucos pelos seus filhos. A cena do martírio é a mesma. O mundo nos ameaça o tempo todo e só vai sobreviver aquele que estiver consciente do conteúdo da carta que porta, da identidade que tem. Deus conta com você. As feras estão soltas. O mundo de hoje é covarde. Descubra o perigo mais próximo de você e aja! Peça a sabedoria que o Espírito Santo nos concede e aja. Não negligencie de levar até o fim essa carta que Deus lhe confia. Quando as pessoas olharem pra nós terão que ver o cristo refletido. Ver que você administra seu lar diferente. Que você não é mãe de qualquer jeito. Tu és uma carta de Cristo! Anunciamos o Evangelho mesmo calados! Faça transparecer a identidade que está em você. Filho do céu. Portador de Deus. Há muita gente desistindo, mas eu não desisto, não quero desistir. Um filho do céu não pode desistir. Não desista! (Palestra dia 17/10/2008 as 20:00 - Acampamento na CN)
Padre Fábio de Melo

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Vire a Página!!

Lembro-me do meu primeiro caderno, de como era feio. Descobri que era pobre quando fui à escola e vi que minha caixa de lápis de cor tinha 12 lápis e a do meu amiguinho do lado tinha 36. Lembro-me que o único luxo que meu pai me deu, foi uma merendeira com formato de elefante. Meu primeiro dia de aula foi terrível, eu tremia como 'vara verde' e a dona Rosângela, minha primeira professora que era a melhor da época, cuidou de mim. Naquele momento, diante de toda a situação, eu sentei, dobrei minhas pernas e fiz xixi nas calças. A professora ao perceber, disse que eu teria que ir para casa. No segundo dia aconteceu a mesma coisa, e assim também no terceiro. Eu até já ficava feliz porque sabia que teria que voltar para casa. Mas, neste terceiro dia fui surpreendido. Ao fazer o xixi nas calças a professora disse que eu não iria para casa, pois minha mãe tinha dado uma cueca reserva caso acontecesse de novo. O momento da escola para mim era terrível, e eu queria fugir do sofrimento, não queria enfrentá-lo. Na escola eu tinha pavor de matemática por que eu a encarava como maior que eu. Quando tinha medo de alguma coisa, eu não a enfrentava. E quanto mais não enfrentava, mais medo tinha daquilo. Se existe alguma coisa que lhe mete medo, respeita, mas não deixe que o medo se torne determinante, por que senão você será eternamente prisioneiro deste medo. Muitas vezes o nosso sofrimento é duplicado dentro de nós por que nos entregamos à experiência do medo, e não devemos ter medo, devemos enfrentá-lo. Se diante do sofrimento eu não o enfrentar, ficarei agarrado à saia da mãe eternamente. Seja honesto com os medos que você sente. Seja honesto com aquilo que merece a sua atenção. Você pode estar perdendo tempo na vida por que está dando atenção àquilo que não merece. A nossa vida às vezes está uma bagunça danada por que não a pontuamos direito, e acaba sendo como um texto mal pontuado que não pode ser bem compreendido. A nossa vida deve ser bem pontuada. Uma "exclamação" no nosso rosto faz falta. Quantas brigas surgem por pessoas que não conseguem pôr uma exclamação na cara? Nós temos o direito de ter nossos momentos de baixa, mas não podemos nos deixar dominar por estes momentos, devemos nos colocar cheios de esperança mesmo diante dos sofrimentos que estão diante de nós! Muitos sofrimentos da nossa vida teriam sido evitados, solucionados, se a gente tivesse perguntado antes, se tivéssemos conversado antes com as pessoas que estão à nossa volta. O sofrimento muitas vezes só vai embora no momento em que chegam pessoas em nossas vidas. Às vezes o que falta nos relacionamentos é a capacidade de perceber o outro. Nossa capacidade de perceber o outro está tão prejudicada por vivermos na pressa, que não percebemos as pessoas. Nós vivemos na pressa e nossa vida vai ficando vazia. Quanto sofrimento se estende em nossas vidas porque não sabemos pôr um ponto final nas coisas? Temos que ter a coragem de pôr este ponto final em muitas coisas em nossas vidas. Por exemplo: nos vícios. Conheci um rapaz que com 38 anos estava morrendo de câncer por que não soube pôr um ponto final em seu vicio. Deixou seus filhos e esposa, pois fumou desde os 12 anos. Se eu matar a minha saúde, se me matar antes do tempo não for pecado, então eu não sei mais o que é pecado. O interesse das indústrias é que tenham cada vez mais viciados, pois um viciado não tem controle. O sofrimento humano esta sendo gerado a partir do momento em que os vícios crescem você tem que ter coragem de jogar fora estas pequenas doses de morte que você coloca em sua própria vida. Padre Léo uma vez me dizia: "Meu filho, eu nunca pedi a Deus que me curasse do meu câncer, por que seria muito injusto eu plantar limão e querer colher outra coisa. Eu fumei a vida inteira. Então, eu peço a Ele que me ensine a morrer do jeito certo". Se eu não faço minha parte, eu me pergunto: será que é honesto eu pedir que Deus faça a parte Dele, se eu não faço a minha? Ele já fez a parte Dele nos dando a vida, precisamos fazer a nossa parte! Há enfermidades que não buscamos, mas há tantas outras que a gente costura, que a gente busca. Como terei saúde boa se não tiver uma boa alimentação? Como é que terei saúde espiritual se eu não busco coisas boas? Um dia eu aprendi muitas lições na escola, mas hoje vejo que tudo aquilo que aprendi também é Evangelho. Deus pode, e eu tenho que poder com Ele, tome uma atitude a partir de hoje. Deus é dinâmico e precisamos ser também. Olha quanta coisa perdemos na nossa vida por que somos lerdos. Se nós entrarmos no dinamismo da graça, ninguém nos segura! Vá à mesma velocidade que Deus está! Ele não perde tempo, Ele ama a toda hora. Se você tem que perdoar, perdoe hoje! Tenha pressa de ser feliz, pois não sabemos quanto tempo nos resta. Tenha pressa de se reconciliar com as pessoas que você ama, tenha pressa em fazer uma atividade física, tenha pressa em amar, tenha pressa em querer a vida, pois não sabemos quanto tempo ainda temos. Onde será o ponto final, a vírgula, o ponto de interrogação ou de exclamação que você deve colocar em sua vida? Talvez você precise "virar a página"! Deixe que Deus fale ao seu coração, para que você saiba o que realmente deve fazer em sua vida. (Palestra dia 19/10/2008 as 11:00 - Acampamento na CN)
Padre Fábio de Melo

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Ele escolhe vasos de barro para depositar o Seu tesouro

O Evangelho nos fala da vocação de São Pedro. Jesus estava à beira da praia pregando e as pessoas se aproximaram d'Ele. Então, Ele sobe na barca de Pedro e a usa para falar às multidões. O grande apóstolo mal sabia que ali seria sua última pescaria. Ele estava dentro da barca enquanto o Senhor pregava. Ele ouvia tudo que o Mestre dizia; e ficamos a imaginar que experiência extraordinária deve ter sido essa. Enquanto Cristo pregava, aquelas pessoas eram "pescadas", e Pedro o foi também. Jesus, para converter as pessoas, não começava fazendo milagres. Ele primeiro pregava a Palavra. E da pregação brotava a fé nas pessoas. Cristo Jesus escolhe Pedro para estar com Ele e para ser pescador de homens com Ele. Mas antes, o discípulo teve de reconhecer que era pecador e assumir que Deus podia usar de um homem assim para ser pescador de homens. Deus escolhe o vaso de barro para colocar o tesouro dentro, para que ninguém se confunda e adore o vaso. E sim, que se reconheça o tesouro. Deus nos chama para Si, Ele quer separar a todos para Si, levar todos para Si. Isso é pescaria e precisamos ser pescados. Nós não estamos neste mundo por um momento ou por uma temporada. Não estamos aqui para sempre. Estamos aqui, mas não somos para este mundo. Por isso, sentimos que nada nos satisfaz. Mesmo que tenhamos saúde, família, casa, dinheiro, nos sentimos "estrangeiros". Neste mundo nada vai saciar o nosso ser. Esta vida não é ruim, não é má. Ela é boa, mas não estamos aqui para este mundo. O Senhor nos colocou aqui para prepararmos a vida com Ele. Uma vez que fomos pescados pelo amor de Cristo, nos sentimos meio fora de lugar aqui. Essa é a pescaria que você precisa fazer no seu apostolado e com seus filhos. Isso é testemunhar seu ser cristão. A vida cristã precisa ser bela e apontar para o alto, para o céu. Isso é pescar homens e mulheres para Deus. (Artigo produzido a partir da pregação do autor, transcrita por Nara Bessa)
Pe. Paulo Ricardo Comunidade Canção Nova

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sofremos demais por aquilo que é de menos

Sofrer é como experimentar as inadequações da vida. Elas estão por toda parte. São geradas pelas nossas escolhas, mas também pelos condicionamentos dos quais somos vítimas. Sofrimento é destino inevitável, porque é fruto do processo que nos torna humanos. O grande desafio é saber identificar o sofrimento que vale a pena ser sofrido. Perdemos boa parte da vida com sofrimentos desnecessários, resultados de nossos desajustes, precariedades e falta de sabedoria. São os sofrimentos que nascem de nossa acomodação, quando, por força do hábito, nos acostumamos com o que temos de pior em nós mesmos. Perdemos a oportunidade de saborear a vida só porque não aprendemos a ciência de administrar os problemas que nos afetam. Invertemos a ordem e a importância das coisas. Sofremos demais por aquilo que é de menos. E sofremos de menos por aquilo que seria realmente importante sofrer um pouco mais. Sofrer é o mesmo que purificar. Só conhecemos verdadeiramente a essência das coisas à medida que as purificamos. O mesmo acontece na nossa vida. Nossos valores mais essenciais só serão conhecidos por nós mesmos se os submetermos ao processo da purificação. Talvez, assim, descubramos um jeito de reconhecer as realidades que são essenciais em nossa vida. É só desvendarmos e elencarmos os maiores sofrimentos que já enfrentamos e quais foram os frutos que deles nasceram. Nossos maiores sofrimentos, os mais agudos. Por isso se transformam em valores. O sofrimento parece conferir um selo de qualidade à vida, porque tem o dom de revesti-la de sacralidade, de retirá-la do comum e elevá-la à condição de sacrifício. Sacrifício e sofrimento são faces de uma mesma realidade. O sofrimento pode ser também reconhecido como sacrifício, e sacrificar é ato de retirar do lugar comum, tornar sagrado, fazer santo. Essa é a mística cristã a respeito do sofrimento humano. Não há nada nesta vida, por mais trágico que possa nos parecer, que não esteja prenhe de motivos e ensinamentos que nos tornarão melhores. Tudo depende da lente que usamos para enxergar o que nos acontece. Tudo depende do que deixaremos demorar em nós. Spinoza escreveu: "Percebi que todas as coisas que temia e receava só continham algo de bom ou de mau na medida em que o ânimo se deixava afetar por elas". O filósofo tem razão. A alegria ou a tristeza só poderão continuar dentro de nós à medida que nos deixamos afetar por suas causas. É questão de escolha. Dura, eu sei. Difícil, reconheço. Mas ninguém nos prometeu que seria fácil. Se hoje a vida lhe apresenta motivos para sofrer, ouse olhá-los de uma forma diferente. Não aceite todo esse contexto de vida como causa já determinada para o seu fracasso. Não, não precisa ser assim. Deixe-se afetar de um jeito novo por tudo isso que já parece tão velho. Sofrimentos não precisam ser estados definitivos. Eles podem ser apenas pontes, locais de travessia. Daqui a pouco você já estará do outro lado; modificado, amadurecido. Certa vez, um velho sábio disse ao seu aluno que, ao longo de sua vida, ele descobriu ter dentro de si dois cães - um bravo e violento, e o outro manso, muito dócil. Diante daquela pequena história o aluno resolveu perguntar- E qual é o mais forte? O sábio respondeu - O que eu alimentar. O mesmo se dará conosco na lida como os sofrimentos da vida. Dentro de nós haverá sempre um embate estabelecido entre problema e solução. Vencerá aquele que nós decidirmos alimentar...
Padre Fábio de Melo

Padre Fábio de Melo é professor no curso de teologia, cantor, compositor, escritor e apresentador do programa "Direção espiritual" na TV Canção Nova

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Enamorar-se.... e amar

Por: Ana Patricia Vera (psicoterapeuta)

O enamoramento é… etapa de sonhos, sorrisos, ilusões e sensações agradáveis. Etapa necessária para começar uma relação a dois, mas o que é, na verdade, o enamoramento? Acontece pela projeção de si mesmos, dada pelas duas pessoas envolvidas, tanto consciente como inconscientemente. É ver no outro o que eu gostaria de ter, ou não vejo em mim e o outro tem; assim como o que eu não gosto de mim e o outro tem. Na verdade, no princípio do enamoramento, não posso ver no outro alguma coisa que eu mesmo não tenha, mas é a pura projeção de minha pessoa, da qual formo uma imagem psicoafetiva do outro. Esta imagem que eu formo do outro se focaliza somente na parte positiva, introduzindo um mecanismo de defesa chamado “negação”, que evita os aspectos que não me agradam de mim mesmo e, portanto, não vejo no outro, considerando-o como o alvo de minha felicidade, pelo que me dá, pelas sensações que produz em mim ao tê-lo perto, assim como ao receber detalhes de atenção e afeto. Depois de um tempo, o enamoramento acaba e baixa o nível de sensações produzidas na pessoa por estar perto do outro ou, inclusive, simplesmente por pensar nele ou nela. Passa-se a ver o outro tal como é, com suas qualidades (antes, superdimensionadas) e seus defeitos (antes não vistos). Rompe-se esta imagem que tinha sido criada do outro e chega a dúvida: “Fiz uma boa escolha?”; ou chegam as mágoas porque “o outro me enganou”, ao mostrar algo que, na verdade, não era. Com certeza, esta primeira imagem era tão somente UMA imagem, a projeção positiva de mim mesmo, mas não era a outra pessoa.A maturidade no amor se reconhece quando uma pessoa é capaz de se relacionar de maneira completa, aceitando os sentimentos positivos e negativos gerados pela pessoa real do outro, com sua personalidade específica, sendo maior a satisfação de se relacionar por este lado positivo que o outro tem e que agora eu também vejo. Implica, da mesma maneira, a aceitação de minhas próprias qualidades e defeitos que agora também o meu parceiro(a) pode ver e, até mesmo, faz com que eu as veja com mais claridade, permanecendo a satisfação de se relacionar pelos aspectos positivos.Laing menciona que é preciso ter um sentimento sólido da realidade de nossa identidade para poder estabelecer uma verdadeira relação com o outro e não se sentir ameaçado de ficar perdido. Se não houver essa base de maturidade na própria pessoa, a relação será superficial e será escolhido alguém que não exija tampouco um amor profundo, pulando muitas vezes de uma relação à outra, na procura constante desse momento que conhecemos como enamoramento.O amor, ao contrário do enamoramento, que procura me fazer sentir bem, tem outro objetivo: conseguir que o outro seja como é e seja o melhor que possa ser; produzindo em mim um sentimento de plenitude ao ir crescendo com o outro, apesar das dificuldades que vamos encontrando.Enamorar-se é lindo; mas amar e ser amado é ainda mais.